A história do cacau no Brasil já passou por altos e baixos, mas os esforços recentes dessa cadeia no País para recuperar a produção já são vistos com otimismo pela comunidade internacional.
Recém-nomeado para a diretoria executiva da Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês), o belga Michel Arrion disse ao Valor que acredita que o Brasil deve liderar o crescimento de produção em todo o mundo, ao menos pelas próximas cinco safras.
As safras de cacau do Brasil têm sofrido nos últimos anos com a longa seca que abateu o Nordeste e derrubou os índices de produtividade na Bahia. Ao mesmo tempo, a produção do Pará vem demonstrando franco crescimento, com o apoio da Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplacc).
A estimativa da ICCO é de que a produção brasileira aumentará a uma taxa de 2,6% ao ano entre a safra atual (2018/19, iniciada neste mês) e a safra 2022/23.
Se essa estimativa estiver correta, o Brasil deve atingir quase 200.000 toneladas de cacau em cinco temporadas, contra a produção de 180.000 toneladas no ciclo recém-iniciado (2018/19), segundo estimativa da Associação Nacional da Indústria Processadora de Cacau (AIPC). O setor almeja alcançar 400.000 toneladas daqui dez anos.
Uma das principais razões para o otimismo de Arrion com o futuro da produção brasileira é a estratégia do país de utilizar a produção de cacau em conjunto com a floresta para atingir as metas de redução de emissões de gases estabelecidas pelo Acordo de Paris.
“No Brasil, o cacau é cultivado em conjunto com outras espécies, de forma a criar um sistema agrícola sustentável, conhecido como cabruca. E parece que o governo brasileiro pretende satisfazer parte de seus compromissos junto ao Acordo de Paris elevando a participação do sequestro de carbono pelo sistema agrícola da cabruca”, disse o diretor executivo da ICCO, em entrevista por e-mail.
O plano de crescimento no Brasil é acompanhado por outros países da América Latina, sobretudo por Equador e Peru, cujos governos têm atuado ativamente para elevar a produtividade da cacauicultura.
O Equador estima que pode sair das atuais 290.000 toneladas de cacau por ano e alcançar 400.000 toneladas em dez anos. Nesses países, a produção avança devido ao caráter empresarial da cultura.
“Isso contrasta com África, Sudeste Asiático e Oceania, onde os produtores são pequenos e desorganizados”, disse Arrion. Para ele, não há necessariamente pressão da cultura sobre novas áreas na América Latina, dado o potencial para elevar a produtividade.
O diretor avalia que outras regiões do mundo também conseguirão aumentar sua produção, mesmo com um modelo mais “artesanal”, o que deve manter a atual fatia da América Latina em 16%. No entanto, ressalta que a região deve se tornar fonte importante de cacaus finos, um nicho em ascensão.
“Há demanda crescente por chocolate de alta qualidade, fino e de origem, que vai ajudar a sustentar a produção de cacau na América Latina”.
Outras origens que devem ficar só um pouco atrás no crescimento da produção global devem ser Costa do Marfim e Nigéria, com altas anuais de 2,3% e 2,2% nas próximas cinco safras, afirmou o diretor da ICCO. Ele também está otimista com a produção da Malásia e Indonésia.
Todas essas projeções, porém, não levam em conta o agravamento das mudanças climáticas. Estudos já indicam que isso pode colocar em risco a produção mundial. Arrion admite que é possível que o cacau tenha de migrar a outras regiões como consequência disso.

 

 

 
Fonte: Valor Econômico