“…deixei o aconchego do lar para dar umas voltas pela cidade na tentativa de pescar ou colher bons casos que me inspirasse a acrescentar algumas laudas a mais no texto …”.

Após uma semana cheia de atividades culturais em homenagem ao aniversário da cidade Camacan, na qual me juntei aos alunos do Colégio Municipal em palestras e troca de conhecimentos. Pleno por encontros memoráveis e agradecido pelo convite dos professores, fui ao encontro de inspiração para o meu próximo romance, O submundo.
O submundo terá um texto contundente, engraçado, de pequenas historietas que ocorrem na cidade que outrora foi à maior produtora de cacau do mundo nas décadas de 60, 70 e 80, declinando a sua produção, em função do ataque agro-terrorista com a VASSOURA DE BRUXA.
Esquecendo temporariamente as ações maléficas que tomaram a região do cacau no passado, nesta manhã ensolarada de quinta feira, deixei o aconchego do lar para dar umas voltas pela cidade na tentativa de pescar ou colher bons casos que me inspirasse a acrescentar algumas laudas a mais no texto em desenvolvimento.
Próximo a centro financeiro e comercial da cidade, tive o prazer de encontrar alguns amigos como: Tião do bicho, Luisão, Fábio Castro, Carlos, Emilio, Marcelo Jacaré, Paulinho do bar, e Tonho Lopes, mais conhecido como pastor Lopinho. Esse último bem mais afamado que os outros pelo jeito descarado, safado e moleque de ser. Uma pausa com Lopinho era para celebrar momentos cheios de saborosas narrativas sobre o modo de viver dos brasileiros.
Ainda sem pressa, retirei um pouco da paz de André do bicho que falando alto chamava-me de cachorro bidoque (Buldoque), e sem parar gritei em sua direção, – que ele deveria tirar o ovo da boca para falar melhor. Sorrindo ainda conversei com dona Sandra temendo represália do seu marido que tem um distintivo e uma pistola. Só após algumas piadas e uma rápida atualização sobre as coisas boas da cidade com ela, desci caminhando lentamente a pequena rua onde fica um dos bancos da cidade, ainda no meio da ladeira chamei por Neto, magarefe de primeira qualidade a quem tenho como amigo, me refiro a sua pessoa como Neto cabeça de cavalo, até chegar ao comercio de Mario, mas conhecido pelos camacaenses como Maro do açougue. Pajeando Maro, lá se encontrava um grupo de boas pessoas, inclusive Zé, o maior matemático da cidade que sempre usou e usa a prática Aristotélica em seu favor. Para receber dinheiro de alguém, dois mais dois são cinco, e quando se trata de retirar dinheiro do seu bolso para pagar a outros, dois mais dois é igual a três.
Esquecendo Zé e os cumprimentos aos presentes, sabedor do apetite de Maro por uma boa cachaça, de longe fui gritando:
– Maro vagabundo, vamos beber uma cachaça?
Sentado na sua cadeira branca na porta do açougue e sem pressa alguma respondeu:
– Mesmo sendo o dia de festa porque é dia do aniversário da minha cidade, eu não quero beber não.
– Não quer beber por que?
– Calazans, eu só bebia quando Zé Pilão estava vivo, porque além de beber, eu ainda tomava ousadia com a mulher dele.
– Todos sabem que você era apaixonado por Zé Pilão, mas não seja por isso; vamos beber uma cachaça no bar de Sansão.
– Em Sansão eu não vou não.
Disse Maro balançando o dedo apontador e com as pernas cruzadas.
– Não vá me dizer que já brigou com aquele educado cidadão?
– Não é isso não Calazans! Sansão só vende cachaça “fofa toba”, basta beber duas doses que o cidadão já vai abaixando as calças para emprestar.
Ao ouvir a resposta, me dei por satisfeito, peguei a rua que leva direto para feira da cidade, passei em frente ao bar de Sansão, relatei a visão de Maro sobre a qualidade da sua cachaça, e quem ouviu gostou tanto que riram sem parar. Continuei andando sem querer mensurar o tempo das risadas, até porque, Maro me deu certa inspiração para escrever.
Agora, vocês podem imaginar como será o texto do próximo romance, O submundo.
João Calazans Filho