O escritor baiano João Calazans Filho é autor consagrado no mercado literário mundial, com livros à venda em grandes livrarias do mundo como a Kobo no Japão, AbeBooks na Inglaterra, FNAC na França e em mais 20 países, coroando com a Barnes and Nobles em Nova Iorque, Estados Unidos.
Os seus textos se inserem no cotidiano de pessoas que usam toda a sua força para sobreviver em um mundo injusto e cruel. Nos seus dois romances mais lidos, O Beco e Salamandra, Calazans mostra enfaticamente a violência utilizada na disputa pelo poder do cacau, sem deixar de traçar o perfil sociológico do ser humano principal, que esteve o tempo todo na frente ou por trás dessa luta, ao entregar parte da sua vida trabalhando em prol da lavoura cacaueira.
A sua trajetória como professor, ofereceu as condições necessárias para olhar o mundo numa perspectiva diferente, e é justamente sobre esse olhar diferenciado que vamos entrevistá-lo, focando no atual cenário dos diversos tipos de violência do nosso país, que se sobrepõe às mais incríveis barbáries fictícias que o escritor expõe em seus livros.

FC – Professor, como o senhor vê esses novos conflitos que o mundo abraça criando possibilidade para uma 3ª guerra mundial?

João Calazans Filho – O homem perdeu o poder de comiserar e ter compaixão. O humano está preocupado com os seus pequenos problemas, deixando para os chamados “ lideres de potências” resolver problemas globais. O humano normal deixou de se interessar por assuntos que dignificam a sua vida, até por desacreditar em governos ilegítimos e às vezes legitimado pelo voto,  mas sem credibilidade. Os políticos contemporâneos, principalmente os já conhecidos políticos profissionais, fizeram da política as suas profissões, agarrando-se aos cargos eletivos, utilizando-os para fazer fortuna pessoal, criando uma espécie de caixa preta que só eles tem a chave, deixando de fora do sistema o cidadão que alijado de poder, sofre e se afasta. Dessa maneira, fica mais fácil de apertar um botão e enviar um monte de mísseis sobre as nossas cabeças, deixando milhares de desabrigados e órfãos de direitos civis. A guerra é um grande negócio para as potências bélicas e só isso.

FC – Todavia, o cidadão tem o voto e com esse instrumento ele não poderia ajudar a mudar o mundo?

João Calazans Filho – Primeiro ninguém quer mudar nada. Ainda mais quando é parte do poder. Entretanto em algumas sociedades alternativas, o voto tem esse poder sim. Mesmo porque, o voto não passa de uma ação facultativa para o cidadão civilizado exercer o seu direito de escolher, e utilizar o poder do voto como direito de escolher livremente se os candidatos apresentados tem potencia e conhecimento para receber o seu voto. Ação essa que não observamos em algumas democracias imperfeitas, quando o voto é obrigatório, é meramente uma peça figurativa que só serve para carimbar a permanência desses políticos que falei anteriormente no poder. Além de tudo, obrigar o cidadão a votar, é aviltante e sectário e, por isso, classifico essas democracias de votos obrigatórios como totalmente imperfeitas ou deletérias.
O voto não serve para nada em países fragilizados democraticamente como: América Latina, África e alguns outros do leste europeu.

FC – Percebemos que o senhor não vê alternativas para mudanças bruscas em áreas de poder político?

João Calazans Filho – Se observarmos as pequenas cidades em países em desenvolvimento como o Brasil, iremos perceber que o jovem brasileiro foi retirado das políticas governamentais e deixado que decisões de formação de cidadã fossem esquecidas, colocando o jovem sem paradigmas para buscar. Se um jovem quiser estudar, possuímos várias escolas públicas próximas a sua residência, mas o governo não fará qualquer esforço para que ele se mantenha em sala de aula. Para a social democracia, o jovem tem direito a tudo, inclusive a não ser nada.

FC – Como assim, “inclusive a não ser nada”?

João Calazans Filho – Na instalação da social democracia como a fonte principal de poder se instalou no Brasil após o governo Itamar Franco, o pátio e áreas esportivas das escolas foram entregues aos traficantes de drogas, o professor perdeu a autoridade na sala de aula e, o medo instalou-se no sistema educacional brasileiro.
O traficante dita o comportamento dos alunos dentro e fora das salas de aulas, criando um ambiente de terror, os professores que já são agredidos verbal e fisicamente em suas salas, ficam refém desses alunos que usam a escola para ganhar dinheiro vendendo drogas e não para estudar e crescer.

FC – O senhor está me dizendo que não temos mais leis nesse país e que a polícia não toma posição nessa questão?

João Calazans Filho – A polícia? Essa é a maior vítima nesse sistema criando dentro dos vinte três anos de governos social democrata. Quando o uso e vendas de psicotrópicos deixaram de ser fiscalizados e sem políticas especificas para combater. O policial perdeu a autoridade para debelar reuniões ou grupos de usuários que convivem ao lado de traficantes ou aviões (o sujeito que passa a droga para frente), que inclusive utiliza essa forma de “trabalho” como uma maneira de sustentar a sua família, ou ter dinheiro para comprar a sua ração diária de entorpecentes.
O judiciário virou completamente as costas para esse grave problema social, os conselhos tutelares não funcionam, enquanto jovens de 07 a 10 anos são estrupadas, fazem programa sexuais para ganhar dinheiro e comprar as drogas que apagarão momentaneamente as suas dores, criando um ambiente festivo e de “curtição”.

FC – Quais os lugares que abrem portas para esses tipos de comportamentos?

João Calazans Filho – Nas pequenas cidades do país os jovens não tem valor nenhum, mesmo porque não gosta de estudar, não quer estudar e não atrela o seu futuro ao estudo. Muitas adolescentes optam pela prostituição para garantir o dinheiro para compra de produtos de beleza e até comer.

FC –  É o uso do corpo como forma de ganhar a vida…

João Calazans Filho – Sim. Nessas pequenas cidades, os comerciantes que são os detentores de poder econômico, como suas exceções, exigem garotas de 13 a 18 anos para as suas peripécias sexuais, as cafetinas tem as suas listas, oferecem e, às vezes, as garotas se vestem de forma lasciva, sedutora e vão se oferecer em alguns bares das cidades.

FC – Estamos falando de crimes contra a juventude então. O Senhor vê solução para essa calamidade social.

João Calazans Filho – Você fez a colocação certa: “Crimes contra a juventude”, até porque vivemos uma calamidade social imensurável no Brasil de hoje. A erotização infanto juvenil contribui diretamente para que doentes sexuais aliciem menores levando-as a prostituir-se no início da adolescência. As roupas curtas, batom, unhas pintadas antes do tempo, cria-se um espaço de amadurecimento precoce nas garotas, evidenciando o desejo dos predadores sexuais.
Vejo a escola para pais e alunos como solução nesses episódios que surgem em função da desestruturação familiar existente. Nesse caso, deveriam ser matriculados na escola os pais e seus filhos também. De forma, que escola pudesse ser um parceiro da família na educação dos jovens.

FC – O senhor vê dias melhores para os jovens do Brasil?

João Calazans Filho – O jovem precisa rebelar-se e, começar uma luta contra as drogas e tudo mais que possam surgir no entorno dela que só fazem prejudicar a sua vida.
Essa luta deve começar na escola, e os governos devem participar dando as devidas condições para que eles possam dizer não a um traficante.
O jovem precisa ser melhor amparado pelo estado, de maneira que possa ser explorado todo o seu potencial criativo, transformando socialmente a sua vida, e abrindo portas para que possam crescer.
A liberdade é uma porta que passamos e não sabemos como chegaremos ao outro lado, e as ações positivas passarão a fazer parte e ter contexto em suas vidas.

FC – Professor, muito obrigado pela entrevista.

João Calazans Filho – Eu é que agradeço a oportunidade que os senhores me deram para expor um pouco do que penso sobre os humanos.