Dados do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde  apontam que cerca de metade das crianças brasileiras não recebeu todas as vacinas previstas no Calendário Nacional de Imunização em 2020.

Segundo os índices do PNI, atualizados até Segunda-feira 07, a cobertura vacinal está em 51,6% para as imunizações infantis. O ideal é que ela fique entre 90% e 95% para garantir proteção contra doenças como sarampo (que tem índice ideal de 95%), coqueluche, meningite e poliomielite.

Neste ano, entretanto, a cobertura vacinal da primeira dose da tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) está abaixo de 60%. A da segunda dose está abaixo de 50%. Nenhuma das vacinas previstas no calendário infantil teve índices acima de 60% (veja tabela abaixo).

Cobertura vacinal (em % por tipo de vacina) até 07/09

Imuno Coberturas Vacinais
TOTAL 51,56
BCG 53,06
Hepatite B em crianças até 30 dias 46,90
Rotavírus Humano 56,92
Meningococo C 57,17
Hepatite B 55,78
Penta 55,78
Pneumocócica 59,68
Poliomielite 54,70
Poliomielite 4 anos 44,63
Febre Amarela 42,71
Hepatite A 54,22
Pneumocócica(1º ref) 53,52
Meningococo C (1º ref) 56,52
Poliomielite(1º ref) 48,30
Tríplice Viral D1 58,89
Tríplice Viral D2 46,66
Tetra Viral(SRC+VZ) 19,95
DTP REF (4 e 6 anos) 50,85
Tríplice Bacteriana(DTP)(1º ref) 59,69

O baixo índice de imunização já tem consequências: dados do Ministério da Saúde mostram que, até o início de agosto, o país tinha 7,7 mil casos confirmados de sarampo. No ano passado, o Brasil perdeu o certificdo de erradicação da doença.

Para Isabella Ballalai, pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o motivo da baixa cobertura é a pandemia de Covid-19, que levou as pessoas a ficarem em casa e não saírem para vacinar os filhos.

“Essa situação se repete no mundo inteiro. Houve uma queda entre 30% e 50%”, afirma Ballalai. A médica lembra que, apesar das quedas vistas nas taxas de imunização no Brasil nos últimos anos, o país continua com uma das melhores coberturas vacinais do mundo.

“Essa cobertura não é simplesmente um número. Sem cobertura vacinal, nós estamos suscetíveis a todas essas doenças – surtos de meningite, retorno da poliomielite”, lembra a pediatra.

“Essas doenças eliminadas só estão eliminadas por causa da vacinação”, pontua Ballalai.

A infectologista Raquel Stucchi, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicap), avalia que a chance de o país alcançar a cobertura ideal de vacinação ainda neste ano é “quase nenhuma”.

“Acho muito pouco provável que em 3 meses a gente consiga recuperar e chegar a essa cobertura”, afirma Stucchi.

No ano passado, o país não atingiu a meta da cobertura vacinal infantil (veja vídeo abaixo). O último ano em que a cobertura infantil alcançou os 90% foi 2015.