Um homem morreu e vários estão hospitalizados 

Um laudo da Polícia Civil divulgado no fim da tarde de hoje revelou, após exames preliminares, a presença da substância tóxica dietilenoglicol em dois lotes de amostras da cerveja Belorizontina, principal marca da cervejaria artesanal Backer, com sede em Belo Horizonte.

A análise das amostras faz parte de uma investigação conduzida pela polícia sobre a morte de um homem e a internação de outros sete em cidades de Minas Gerais, desde o final do ano passado.

Segundo a polícia, o dietilenoglicol é um composto normalmente utilizado no processo de refrigeração em fábricas. A ingestão dessa substância pode afetar principalmente os sistemas nervoso, cardiopulmonar e renal. As consequências do consumo deste produto correspondem aos sintomas apresentados pelos oito homens da “doença misteriosa”, mas as investigações ainda analisam se há relação entre o consumo da cerveja e o problema de saúde.

Os pacientes hospitalizados, a maioria do bairro Buritis, região oeste da capital mineira, apresentaram sintomas similares em diferentes fases das internações, o que criou a suspeita pelas autoridades sanitárias da existência de uma síndrome. Os casos mobilizam investigações da Polícia Civil e da Secretaria de Saúde de Minas Gerais.

O bancário Paschoal Demartini Filho, 55, e um genro, de 37 anos, teriam ingerido a cerveja Belohorizontina, no fim de dezembro. O bancário morreu na terça-feira (7) com os sintomas da doença misteriosa, e o genro também está internado.

“Doença misteriosa”

Ao todo, nove casos da síndrome não identificada foram notificados, mas um deles acabou descartado pelo fato de não apresentar os mesmos sintomas dos demais relatados. A Secretaria de Saúde de Minas Gerais acionou o Ministério da Saúde no domingo (5) a respeito de casos graves de insuficiência renal aguda com alterações neurológicas, cujas causas ainda não foram identificadas.

Especialistas do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do SUS (Sistema Único de Saúde) chegaram a Belo Horizonte na terça-feira (7), para “colaborar com a investigação epidemiológica, confirmação diagnóstica, na busca e descrição dos casos, no levantamento e na análise de hipóteses sobre o modo de adoecimento para o desencadeamento de ações de prevenção e controle da doença”, de acordo com nota conjunta divulgada pelos dois órgãos.

De acordo com a Secretaria e o Ministério, os pacientes internados tiveram sintomas gastrointestinais (náusea, vômito e dor abdominal), associados a insuficiência renal aguda grave de evolução rápida (em até 72 horas). Ainda segundo esses órgãos, essas pessoas, na sequência, tiveram uma ou mais alterações neurológicas, como paralisia facial, vista borrada e cegueira total ou parcial.

Cervejaria diz contribuir com investigações Por meio de nota, a Backer informou hoje que “está colaborando com os órgãos públicos de saúde, que estão realizando perícias em todo o seu processo de produção”. A cervejaria ainda declarou que a substância encontrada não faz parte do processo de produção da cerveja Belorizontina. Porém, por precaução, os lotes em questão serão retirados imediatamente de circulação.

“Agentes do Ministério da Agricultura realizaram uma inspeção completa na linha de produção. Autoridades de saúde investigam, igualmente, outros produtos consumidos e que possam ter provocado a hospitalização dessas oito pessoas, todas com os mesmos sintoma”, informa a Backer.

“Reafirmamos nossa total confiança em todas as etapas de produção dos nossos produtos. Manteremos nossos consumidores, distribuidores e a sociedade em geral informada, tão logo tenhamos acesso aos laudos periciais, ora em curso.”

As cervejas dos lotes L1 1348 e L2 1348 estão contaminadas. De acordo com a Backer, a empresa está mapeando os estabelecimentos que receberam estes lotes da Belorizontina, 66 mil garrafas, para que sejam recolhidos imediatamente. O número do lote da cerveja está junto com o carimbo do prazo de validade da bebida.

O Procon (Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor) de Minas Gerais alertou para o consumo destes lotes da bebida, em cujas amostras foram encontradas a substância dietilenoglicol. “Cervejas desses lotes não devem ser ingeridas, pois podem provocar, no consumidor, os efeitos da “doença misteriosa”, que, até agora, acometeu oito vítimas, sendo que uma delas morreu”, informou o Procon.

PRÊMIOS

Criada em 1998, a Backer inicialmente produzia chope em bar no bairro Olhos D´Água, zona sul da capital mineira. Em 2005, inaugurou a fábrica de cerveja artesanal. Em setembro de 2019, a Backer conquistou o título de melhor cerveja das Américas, com a marca Belorizontina ficando com a medalha de ouro, na Copa das Cervezas de América, um dos mais importantes do calendário internacional, realizado em Santiago. Além de chopp e cerveja, a Backer produz gin e uísque.