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Como anteciparam Augusto Nunes e Felipe Moura Brasil, os áudios – reproduzidos abaixo – das conversas entre Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno, então secretário-geral da Presidência, comprovam que eles conversaram três vezes na terça-feira passada, 12 de fevereiro, ao contrário do que faz parecer o tuíte de quarta-feira, 13, do filho Carlos Bolsonaro, compartilhado pelo presidente, quando o vereador acusou Bebianno de dizer uma “mentira absoluta” ao relatar o ocorrido ao jornal O Globo.
No primeiro diálogo, trataram da reunião entre Bebianno e Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo.
“Eu não quero ele aí dentro”, afirmou Bolsonaro. “Qual a mensagem que vai dar para outras emissoras? Que nós estamos nos aproximando da Globo (…) Você está trazendo o maior cara que me ferrou antes, durante e agora após a campanha para dentro de casa. Me desculpa: como presidente da República: cancela. Não quero esse cara aí dentro e ponto final”.
No segundo áudio, Bolsonaro mostrou-se incomodado com a ida de Bebianno e dos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) à Amazônia, onde discutiriam com líderes locais a construção de uma ponte sobre o Rio Amazonas, uma hidrelétrica e a extensão da BR-163 até a fronteira com o Suriname.
“Gustavo, uma pergunta, ‘Jair Bolsonaro decidiu enviar para a Amazônia?’”, irrita-se o presidente. “Não tô entendendo. Quem tá patrocinando essa ida para a Amazônia?”
No último diálogo do dia, Bolsonaro determina: “Ô Bebiano, essa missão não vai ser realizada. Eu não quero que vocês viajem, por quê? Vocês criam a expectativa de uma obra, aí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, que vai ser aprovado etc. Então essa viagem não se realizará, tá ok?”
Na tentativa de corroborar sua acusação de “mentira absoluta” de Bebianno sobre a conversa com seu pai, Carlos Bolsonaro também divulgou na quarta-feira o trecho de um áudio em que o presidente diz a Bebianno que “está complicado conversar ainda”.
Ainda na quarta-feira, Bebianno enviou a Bolsonaro uma mensagem em que se queixava do comportamento de Carlos.
“Capitão, está difícil para mim”, escreveu Bebianno. “Não vou ser taxado de mentiroso por ninguém. Não sou mentiroso, não sou desonesto. Isso não está certo! O Carlos não pode mais seguir ofendendo as pessoas, agredindo, xingando, transformando seu aliados e amigos em opositores. Isso precisa parar. Isso vai comprometer o seu governo.”
Confrontado, o pai insistiu em defender o filho.
“Você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem”, respondeu Bolsonaro em outra mensagem de áudio. “Ele esteve comigo 24 horas por dia, então ele não está mentindo nada nem tá perseguindo ninguém”.
Bebianno ainda tentou argumentar. “Capitão, há várias formas de se falar”, rebateu. “Nós trocamos mensagens ontem três vezes ao longo do dia, capitão. Falamos da questão do institucional do Globo, falamos da questão da viagem. Falamos por escrito, capitão. E qual a relevância disso? As coisas precisam ser analisadas de outra forma, tira isso do lado pessoal. Ele não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém. Isso está errado.”
Bolsonaro tomou novamente o partido do filho.
“Gustavo, usar que usou do WhatsApp para falar três vezes comigo, aí é demais da tua parte. Aí é demais e eu não vou mais responder a você”, disse.
“Outra coisa: eu sei que você manda lá no Antagonista. A nota foi pregada lá. Dias antes, você pregou uma nota, que tentou falar comigo e não conseguiu no domingo. E eu sabia qual era a intenção. Era exatamente dizer que conversou comigo e tá tudo muito bem. Então, faz favor, ou você restabelece a verdade ou não tem conversa a partir daqui pra frente.”
As notas do site O Antagonista, porém, apenas repercutiam e destacavam a notícia do Globo, sobre ambos terem se falado três vezes na terça, e uma notícia da Folha, sobre a tentativa de ligação no domingo anterior.
Bebianno tentou explicar, mas Bolsonaro, inflamado pelo filho, não estava disposto a ouvi-lo.